Uma greve pedagógica
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José Rubens Mascarenhas
de Almeida
A greve dos professores da educação pública da Bahia tem
sido uma ação sumamente pedagógica para todos seus sujeitos.
Ela não é pedagógica simplesmente
por ser uma greve de professores, mas porque, em seu processo, todos aprendemos,
todos passamos pela dialética relação ensino-aprendizagem cuja essência não se
dissocia da práxis (relação teoria/prática).
Uma prova de resistência que ensina que a dignidade não se vende ou se
compra
no supermercado da esquina e que deve ser defendida até o último
instante e as últimas consequências, uma práxis que educa para a vida,
não para o mercado e a
mercantilização das relações.
Vejamos:
- Aprendem os professores
que qualquer conquista só
vem da luta, e de uma luta árdua de enfrentamento de seus inimigos
diretos e
indiretos; de uma luta em que o combate às forças que pretendem lhes
submeter e
submeter o seu fazer de forma plena e digna, descaracterizando-o e
desconstruindo-o
em essência e plenitude; de uma luta vigorosa contra todos os
instrumentos de
dominação: uma mídia pautada não pela ética, mas pela mercantilização
absoluta
de seu fazer, que se vende e esse rende às mentiras oficiais propaladas
por aqueles que oprimem pelo simples fato de que são os que
detém/administram os recursos expropriados
da classe trabalhadora e os transfere como pagamento pelo aluguel do
espaço midiático; contra pseudos
representantes de sua categoria, travestidos de sindicalistas que,
pernosticamente, se infiltram e aparelham as suas organizações
(atropelados pela base nesta greve); contra instituições/instrumentos
constitutivas/os do
Estado opressor na esfera jurídica, cujos membros vendem/compram
sentenças como
estivessem em qualquer feira ou botequim; contra um administrador
(Executivo) que
governa fascista e tiranicamente no ofício da manutenção da sua servidão
e da de
seus governados, e cujas ações sustenta até os últimos descalabros;
contra um
Legislativo oportunista que só conhece/reconhece as leis que servem à
opressão e age contra direitos inalienáveis (ao exercício da lei, à
sobrevivência e à transparência da administração pública);
contra uma máquina estatal que busca lhe submeter sob o terrorismo da
quitação
de seus meios de subsistência (corte dos salários).
Uma greve que ensina aos estudantes
que não devem ser simplesmente alunos (sem lúmen, sem luz própria), mas
fermento na massa, agente da luta por uma educação que prepare para a
vida e
não para o mercado, pois neste está a reprodução e realização daquilo
que é
mais nefasto nesta sociedade; que a luta pela dignificação da educação
(para
além da formal) significa a garantia de um futuro distinto; que ensina
que vale
a pena se lutar por aquilo que se defende, independentemente da força
daqueles
que se negam a ceder em sua dominação; que uma educação digna não se
constrói com o suor, a paciência, a exploração e o controle absolutos do
educador,
mas é fruto/produto da luta diária contra as forças que a despedaça, que
a
atomiza mecanicamente; uma greve que desnuda as práticas de um governo
travestido
de “dos trabalhadores”, mas que desmonta as mínimas conquistas sociais
daqueles
que trabalham.
Uma greve pedagógica que ensina
também aos opressores de plantão.
Ensina que, como todos os opressores que lhes antecederam, sua exploração não será eterna, mas terá
um fim, e que suas práticas aceleram esse processo; ensina que os oprimidos têm
uma capacidade incalculável de resistência quando o que defendem ultrapassa o
pragmatismo das ações sem ideais; que nem sempre os aparatos fascistas dão
conta de uma resistência quando o oprimido se reconhece nela e reconhece companheiros
e opressores, assim como suas práticas e mecanismos de opressão; que ensina que
a mínima legitimidade que calçava sua governança, seu domínio, é posta à prova
quando suas práticas são ardilosas e fogem à realidade e à verdade; ensina que
a História tem razão e que a tirania – e sua governança – tem limites.
Uma greve pedagógica, que
ensina a todos que ainda é possível
o exercício da dignidade, da ética, dos valores que se pautam para além do
pragmatismo, do individualismo liberal, da mercantilização das relações sociais,
da picaretagem – institucional ou não. Ensina que é possível superar os (des)valores
reinantes atualmente.
Sem dúvidas, esta é uma greve sumamente
pedagógica para toda a sociedade.Vivas aos professores da Bahia que resistem à opressão, às mentiras oficiais, ao terrorismo de Estado e de um governo pseudamente “dos trabalhadores”!