segunda-feira, 9 de julho de 2012

ARTIGO /GEL VARELA

Não é fácil estabelecer um conceito sobre a violência, por serem inúmeras suas abordagens, por serem suas causas complexas e de caráter estrutural. No entanto, é possível traçar um panorama acerca dos mecanismos que a geram. Já é possível perceber que o caos exterior é o reflexo do caos interior do Ser Humano.

Segundo Stoppino Apud Bobbio (1995), de modo geral, por violência entende-se a intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo. Geralmente, a violência é exercida contra a vontade da vítima. Pode ser direta ou indireta. É direta quando atinge de maneira imediata o corpo de quem a sofre. É indireta quando opera através de uma alteração do ambiente físico no qual a vítima se encontra. Segundo o autor, violência pode ser considerada ainda como sinônimo de força. Portanto violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror.

A definição geral de violência oferecida no Primeiro Informe Mundial sobre a Violência e a saúde da Organização Mundial de Saúde é a que melhor concentra as heterogêneas configurações da violência existentes nas múltiplas modalidades que esta adquire. Violência é, segundo OMS (2003, p.5): "O uso intencional da força e do poder físico, contra si mesmo, contra outra pessoa ou um grupo ou comunidade, que cause ou tenha muitas probabilidades de causar lesões mortes, danos psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações".

Porém, Engels (1981) valoriza a violência como um acelerador do desenvolvimento econômico. Mao Tsé-Tung a trata como garantia do poder político "o poder nasce do cano do fuzil"; Sorel (1992) como a substantiva na "greve geral" considerada por ele como o mito da mudança necessária na sociedade burguesa; Sartre (1961) a analisa no universo da escassez e da necessidade.

Em direito civil, a violência caracteriza a coação exercida sobre a vontade de uma pessoa para forçá-la a concordar. Agudelo (1989) e Yunes (1993), referem-se à violência como uma questão que deveria ser priorizada pela Saúde Pública, enquanto Minayo (1994) traça uma agenda a ser adotada frente aos agravos à saúde provocados pelas diversas formas de violência.
Para Arendt (2000), a violência tem um caráter instrumental, a resposta para a violência destrutiva, segundo ela, está na severa frustração de agir no mundo contemporâneo, “Sociedade do consumo”, cujas raízes estão na burocratização da vida pública, na vulnerabilidade dos grandes sistemas e na monopolização do poder.

O paradigma arendtiano, um dos mais rigorosos acerca da temática da violência, explicita que todo e qualquer historiador, sociólogo ou cientista político não pode, tampouco deve ignorar o papel que a violência estrutural assume perante os assuntos humanos, sendo que a autora se surpreende quando não encontra dedicação dos cientistas sobre o assunto.

Penso que o índice alarmante de violência que assola nosso Estado encontra amparo por um tripé que sustenta e instrumentaliza o caos urbano, principalmente em Salvador e região metropolitana. A educação sem valores; a política sem moral e a mídia sem ética e estética elevadas. Vejamos!

Educação: Enquanto a educação nos ensina através da ciência, somente a medir, calcular e dominar, então, não só dificulta, mas também nos impede de alcançar o que é indicado, por exemplo, pela noção exata de alma, consciência e Lei Natural para nossa sensibilização e evolução voluntária. Com isso, ampliamos os nossos medos, culpas e apegos. Por conseguinte, nos inclinamos a implantar, manter ou ampliar a corrupção, a violência e a volúpia na sociedade que nos inserimos, bem como a colonização, guerra e promiscuidade no mundo em que vivemos, respectivamente. A educação verdadeira é aquela que nos especializa tanto no espiritualismo quanto no profissionalismo, pois ambos são imprescindíveis, mas nessa ordem; até porque o que somos e o que devemos realizar andam juntos; afinal, o que somos é importante, mas é o que fazemos que nos define. Com isso não podemos em hipótese alguma confundir educação espiritual com educação religiosa, sobe o risco de ampliarmos a alienação e o ópio do povo.

Política: Quando numa sociedade, mesmo dita emanada do povo, pelo povo e para o povo, o governo se empenha em perseguir seus ditos ou tidos adversários com vinganças criminosas apoiadas em fórmulas jurídicas; se empenha em oprimir as minorias com o descaso e a demagogia, então as consciências que compõem tal sociedade demonstram que não mais ignoram, mas esquecem e/ou inobservam aquilo que é indicado pela noção exata de alma, consciência e Lei Natural, para a evolução voluntária do gênero humano.

É preciso compreender que se a oposição é forte, segundo a razão, o bom senso e boa intenção, bem como a capacidade, o conhecimento e a atitude; e ainda, se ela é, ao mesmo tempo, inteligente, instigante e interessante, então o Estado é tão forte quanto.

Porém, enquanto a política se assume como a ciência do possível, mas não do ideal, viveremos tentando administrar o caos. E enquanto pouco inteligentes nos preocupamos muito mais com política do que com educação. Por exemplo, nesse momento, os alunos da rede pública tornaram-se invisíveis aos olhos da sociedade. Perdemos a capacidade de indignação. Está tudo normal, os políticos, os professores, os artistas, os jornalistas da grande mídia, não se manifestam em favor dos alunos e isso é mais do que greve, isso é grave. Como diria Martin Luther king: “O que nos preocupa não é os gritos dos maus, mas o silêncio dos bons”. Afinal, a culpa da falha, falta ou falência da educação não é dos educandos. Bom que reflitamos!

Mídia: A mídia popular na Bahia está perdida, completamente desconectada dos valores nobres das experiências honradas da sociedade. As linhas editorias perseguem os dramas, traumas e tragédias humanas, como se a câmera de tv fosse o olho da mosca, pois a mosca busca podridão em tudo, mesmo que não haja podridão em tudo, sendo esse seu objetivo para se alimentar. Com isso, a mídia, passa a deseducar e fragmentar a moral, desenvolvendo um papel alienador, criando uma sinergia que realimenta a onda de violência crescente em nossa cidade, gerando na consciência das pessoas o medo e terror de se conviver em sociedade, estigmatizando e marginalizando o pobre e a favela. E o pior é que tudo isso é justificado em nome da liberdade de imprensa. Porém, devemos refletir sobre os impactos sinérgicos dessa dita “liberdade de imprensa”.

Analogamente pensando, se existe a máxima de que a propaganda é a “alma” do negócio, então a violência social cresce também em função dessa midiatização e propaganização que banaliza a vida e naturaliza a morte por violência nos becos e guetos de salvador e região metropolitana. Esse modelo de mídia exerce coercitividade na população e termina plastificando o afeto das pessoas, fazendo com que elas produzam um comportamento indiferente, construindo a famosa ética da indiferença, depois de serem expostas a um bombardeio de informações de conteúdo violento, perdendo a capacidade de indignação e estabelecendo a “normose”. Está tudo normal!

É preciso uma tomada de decisão, pois não podemos parar a violência se ainda existe violência em nós. Quando dizemos nós, estou me referindo à responsabilidade de todos os segmentos sociais. A ética da não violência não é mais uma opção disponível e sim uma imposição necessária, mas pela educação, pois se quisermos prevenir os delitos, que aperfeiçoemos a educação, principalmente dos políticos, pois para ser politico nesse país, em muitas situações, não é necessário ter estudo, e talvez pudéssemos melhorar isto. Tenho dito!!!

Gel Varela é filósofo e músico
gelmahatma@hotmail.com

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